A moda veio para ficar e os benefícios são já consensuais: um estudo recente da Universidade de Londres mostrou que 72% dos cerca de 4.000 trabalhadores entrevistados espera que a tecnologia – e, em particular, a inteligência artificial e a automação – venha ajudá-los a fazer melhor o seu trabalho, libertando-os das tarefas mais monótonas.
Mas, se assim é, por que motivo apenas 3% dos CEOs inquiridos admite ter deixado funções essenciais à operação do negócio nas mãos das máquinas?
Enquanto gestor, não me é difícil pensar na resposta: as tecnologias são, sim, uma excelente ferramenta de suporte, mas daí a serem uma ferramenta de gestão autónoma vai um (muito) grande passo.
A inteligência artificial das máquinas e a inteligência emocional das pessoas
A tecnologia pode, sim, ser a chave do sucesso de um negócio, mas para isso tem de ter uma equipa motivada e dedicada por trás. Se é certo que os peritos ingleses estimam que, em 2020, 72% das empresas recorra à automação robótica de processos (RPA), é igualmente certo que os números só se concretizam de forma feliz quando os humanos lhes prestam apoio.
Manter as equipas confiantes de que serão apoiadas e não substituídas tornou-se, assim, numa preocupação real e moderna das empresas – um desafio que não é tão fácil assim de enfrentar, se pensarmos na cultura organizacional enraizada, na resistência à mudança e no próprio medo de ser substituído que se apoderou de muitos colaboradores. É importante, por isso, reconhecer os principais desafios que a adoção de RPA vai trazer à sua empresa e estar preparado para enfrentá-los.
Enfrentar os desafios da inteligência artificial
Se a sua empresa está a preparar-se para introduzir a automação no processo produtivo e de negócio, esteja preparado para:
1. Aliar a cultura empresarial à tecnologia
Aplicar a novidade da automação de processos a casos de uso específicos e limitados vai fazer com que as equipas os encarem assim mesmo: como versões de estudo e não como algo maior a ser implementado de forma abrangente.
Uma vez em curso o processo de digitalização de processos, envolva tudo e todos, angarie embaixadores para a sua causa e, sobretudo, fomente a automação dos projetos mais importantes do momento. O sucesso de uns não só servirá de exemplo como vai acabar também por entusiasmar os outros.
2.Formar (e re-formar) colaboradores
Os seus colaboradores não são todos millennials e podem não saber ainda como lidar com os novos processos automatizados nem com as tecnologias que os suportam. Pode ser necessário apostar na formação destas equipas, e não é má ideia a empresa assumir esses custos como prova de boa-fé e de que a ideia não é substituir toda a gente por máquinas.
3.Diversificar as equipas
Com a tecnologia a avançar e a automação a afirmar-se num lugar tão próprio, é importante que as empresas valorizem os colaboradores enquanto fonte de informação e experiência que a máquina não tem. Diversificar a equipa em termos de género, idade e formação é uma forma de enriquecer os seus recursos humanos e fazer, melhor do que nunca, aquilo que a máquina não faz: ter bom senso. Uma equipa forte e completa permite “educar” as tecnologias da forma certa e criar sistemas de RPA fiáveis e competentes.
4.Preservar a autenticidade do negócio
Há negócios que assentam tanto na analogia que ficariam a perder se automatizassem os processos todos de um dia para o outro. Por um lado, ainda há parceiros e consumidores que preferem uma abordagem tradicional; por outro, essa abordagem pode estar enraizada na própria cultura do negócio, que se perde no momento em que processos e procedimentos começam a ficar iguais entre diferentes setores. Esteja atento ao que o seu negócio tem de maior valor e garanta que não se perde com a febre da adoção tecnológica.
5.Promover a resiliência nas equipas
Ainda que a tecnologia tudo prometa e a RPA pareça fazer cumprir, é fundamental que entenda que a empresa não vai mudar da noite para o dia – nem o seu negócio vai acompanhá-la nisso, e ainda bem.
Assim como a tecnologia deve ser aprendida e absorvida, a automação de processos também deve ser adotada de forma consciente e tranquila. Fazer ver aos colaboradores que o período de adaptação, sendo difícil, é um mal necessário para um bem maior pode ser uma forma de tranquilizar o processo de adoção tecnológica e, consequentemente, de conseguir que o negócio não se ressinta pelas mudanças praticadas.
Um processo a longo prazo
Adotar a inteligência artificial e a automação de processos é uma tarefa com várias faces e todas devem encaixar na perfeição para que a tecnologia não lhe destrua o negócio. Seja paciente, consciente e, acima de tudo, olhe sempre para as (e pelas) suas equipas.